Michelli – “Diálogos com a Solidão”, o curta-metragem de Claudio Chocolate, protagonizado pela activista Trans, Imanni da Silva, foi apresentado ontem, 5 de Dezembro, para um público restrito em uma das salas de cinema da cidade capital.
O filme que retrata a vida de uma mulher Trans durante o lockdown, Michelli, que acorda no início da madrugada para um encontro virtual, que durante o processo de preparação para o encontro, a personagem efetua um diálogo com os posters de alguns ícones da cultura Pop sobre amor, família, sexualidade, género e expectativas sociais.
Em uma fotografia que transmite de uma maneira abstracta a delicadeza do curta, a personagem Michelli, interpretada por Imanni da Silva, conseguiu nos envolver no seu diálogo profundo e com uma sutil pegada política que, para alguns desatentos com certeza passou despercebido. Afinal, os homens Heterossexuais casados nunca se apresentam dizendo: “Olá! Eu sou o João, sou heterossexual, casado há 6 anos, tenho 3 filhos, e, quero ficar contigo”. Mas quando se trata de uma mulher Trans, parece que existe uma obrigação para elas andarem com um enorme letreiro com os dizeres: “EU SOU UMA MULHER TRANSEXUAL”.
Não foi difícil de perceber que o filme fala de uma mulher Trans trabalhadora de sexo, mas fugindo rapidamente das histórias cliché que estamos acostumados a ver, uma mulher Trans vítima da sociedade, marginalizada e invisível para todos, cuja a única saída que tem para sobreviver é recorrer ao trabalho de sexo. No filme em questão, vemos uma mulher dona de si, sexualmente independente, e que percebe muito bem as restrições e exclusões sistemáticas que o seu corpo enfrenta. Há um cuidado e atenção na forma que foi incluída as cores da bandeira Trans no design do título do filme, sendo que olhando para ele, percebemos a a expressão da feminilidade que foi inicialmente pretendida de passar.
Provavelmente algumas pessoas presentes na sala, esperavam um filme repleto de drama e com um final trágico para a personagem, mas, estamos cansados de ver esse tipo de representação das mulheres Trans no cinema, nós queremos ver representatividade que nos estimulem a melhorar, e não um conteúdo cinematográfico que apresenta a sentença de morte das mulheres Trans.
A estreia do filme contou com a presença de alguns líderes LGBTQIAP+, nomeadamente, Paula Sebastião e Edson Francisco, como do senhor Embaixador da Argentina em Angola, Alejandro Verdier, e do responsável da ONUSIDA em Angola, Dr. Michel, que fizeram questão de elogiar a narrativa do filme e a actuação de Imanni.
Para aqueles que gostariam de ver o filme, infelizmente o mesmo não estará em cartaz nas salas de cinema. Segundo o realizador, Claudio Chocolate, o filme foi concebido para participar de festivais de cinema internacionais, e será apresentado para alguns públicos específicos (incluindo a comunidade LGBTQIAP+ Angolana) em cerimónias de aprese particulares.
Por: David Kanga
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