A discussão sobre o papel que os Homem Trans assumem seja na sociedade, nos seus relacionamentos amorosos e no seio da própria comunidade LGBTQIAP+, continua a ser muito debatida.
Homens Trans, são homens que após o nascimento lhes foi atribuído o género Feminino com base em seus órgãos sexuais biológicos (vagina), contudo, os mesmos passam a se entender e se identificar com o género Masculino, onde normalmente, têm uma expressão de género que vai de acordo ao género com o qual os mesmos se identificam.
Há uma expectativa (por conta de todo o estigma, preconceito e anulação, bem como do processo de Transição de género, que os homens Trans passaram/passam) de que os mesmos pudessem assumir um modelo de “homem” que, não reproduzisse e perpetuasse o modelo do sistema patriarcal que atribui poder de domínio aos homens Heterossexuais Cis sobre todos os corpos que não se enquadram no sistema.
O que seria muito bonito de facto, mas, é visto uma reprodução do sistema patriarcal nos corpos dos homens Trans. Um sistema que usa não só os corpos dos homens Trans, como também os corpos dos homens Gays para fixar o seu modelo excludente, mutilador e que invisibiliza e anula a existência dos corpos Queers.
Sistema Patriarcal, é um sistema social em que homens mantêm o poder primário e predominam em funções de liderança política, autoridade moral, privilégio social e controle das propriedades. No domínio da família, o pai (ou figura paterna) mantém a autoridade sobre a mulher e todo o resto da família.
“Na sociedade patriarcal, prevalecem as relações de poder e domínio dos homens sobre as mulheres e todos os demais sujeitos que não se encaixam com o padrão considerado normativo de raça, gênero e orientação sexual. E os homens Trans na sua maioria crescem tentando ser aceites nesse sistema, dai entra a reprodução do patriarcado em corpos Trans, a tão almejada masculinidade padrão. A necessidade de ter uma passibilidade, muitos acabam sendo reprodutores do patriarcado, uns sem saber, outros pela necessidade de serem vistos como um verdadeiro homem, porque até os homens Cis Heteros sofrem se não estarem dentro do padrão. Quanto mais padrão for mais homem você é , não que eu acredite nisso mas é o que a sua maioria defende.” – Edson Francisco, diretor do Movimento T em Angola, para a Queer People
Esse modelo, é reproduzido não só pelos homens Trans, mas também pelos homens Gays Cis e Afeminados, Lésbicas Cis e Trans, homens e mulheres Heterossexuais Cis, ou seja, é um modelo perpetuado por todos os indivíduos que pertencem à uma sociedade, em particular indivíduos Queer, na tentativa de terem algum tipo de passabilidade no sistema que anula a existência dos mesmos.
Por conta do modelo de “Homem” da sociedade Angolana, que mescla perceções cristãs com costumes culturais local (que sofreram influencia do ocidente na véspera da invasão das nossas terras, denominada por colonização), homens Trans e Gays Cis assumem um modelo comportamental excludente e mutilador, onde quanto mais másculo for e sua imagem se aproximar do modelo do sistema, ,maior é a sua passabilidade. Esse ato acarreta vários comportamentos tóxicos e excludentes, tendo como vitimas iniciais mulheres Lésbicas e Trans e, homens Gays afeminados, ainda assim, os mesmos acabam sendo vitimas desse mesmo modelo.
Penso que há uma necessidade de um repensamento* geral sobre a orientação sexual e identidade de género em Angola, muito porque as referências que se usam são sempre baseadas em modelos ocidentais brancos. Ainda não se concebe aqui, que identidade é uma percepção individual, e que não precisa de se encaixar em nenhuma categoria normativa, mesmo que com a ameace de não ser aceite.