Homens Gays Afeminados continuam a ser sub-representados na televisão e no cinema, e, nas poucas vezes em que são representados, os mesmos são apresentados de forma caricata de forma que os seus corpos não sejam dignos de serem apreciados e amados.
O curta-metragem nigeriano, Country Love, vem quebrar esse ciclo vicioso de invisibilidade dos homens Gays Afeminados no cinema, trazendo uma narrativa diferente do habitual. Country Love apresenta como personagem principal, Kambili, homem Gay Afeminado que, vive em uma zona rural da Nigéria, onde pessoas Queer continuam a enfrentar LGBTfobia generalizada.
Como uma pessoa Queer Afeminado e não binário, Wapah Ezeigwe, diretor e redator do filme, sentiu-se incomodado com a forma em que as personagens Queer femininos são retratados em filmes na Nigéria e em outros países. Ele sentiu que na maior parte das vezes em que filmes apresentam personagens Queer femininos se baseavam em estereótipos femmefóbicos, mas também que a representação Queer era dominada por personagens “Queer masculinos”.
“A identidade Queer é muito diversificada. É meio ofensivo quando você tenta simplificar essas identidades e representar queerness como sendo masculino”, disse Ezeigwe para à Minority Africa.
O cineasta de 26 anos, que actualmente é um dos 20 criativos de filmes escolhidos em toda a África Ocidental para fazer da Multichoice Talent Factory, decidiu fazer sua estréia na direção com um filme onde o personagem principal é um homem Gay Afeminado.
“Senti que não deveríamos ser pressionados por sermos afeminados e, que era muito importante que as pessoas entendessem nossa identidade. Nossa casa, nossos familiares, o sentimento de amor, eu queria explorar essas coisas e como isso diz respeito a um indivíduo Queer”, disse Ezeigwe.
Country Love é uma história sobre aceitação e irmandade que circulam em torno da sexualidade da personagem principal. O mesmo centra-se na relação entre dois irmãos, Kambili e Nneka, tocando no conceito de lar para as pessoas Queer, onde para muitos o lar é um lugar onde o conflito por conta de sua orientação sexual ou identidade e expressão de gênero é eminente.
“Tanto consciente ou inconscientemente, uma vez que você é afeminado e está andando, mesmo que você não se identifique como Queer, as pessoas sempre assumem que você é Queer”, disse Ezeigwe, assumindo que os homens Gays Afeminados sempre acabam na linha da frente do movimento LGBTQIAP+.
Essa percepção também foi feita pelo ator, Kelechi Michaels que interpreta a personagem Kambili no filme.
“Trabalhar nisso me fez respeitar mais os homens Afeminados, porque não é fácil ter que viver sua vida de uma maneira que todos olhem para você de alguma forma”, disse o ator.
Michaels tem 24 anos, não é afeminado e falou da reserva que Ezeigwe tinha quando enviou sua fita de audição para participar do filme.
“Eles estavam tipo:´Oh, eu vou precisar que você seja o mais afeminado possível´, e eu estava tipo `sim, com certeza´”, falou o ator para à Minority Africa.
Mesmo tendo trabalhado em outros filmes da indústria cinematográfica nigeriana, Michaels reconheceu que Country Love foi diferente do habitual, exigindo muito mais dele como ator.
“Eu percebi às vezes no set que depois que eu terminava uma cena, eu ficava muito fraco por causa do quão exigente aquela cena em particular era. Foi muita luta, mas meio que fez crescer como ator”, disse ele.
O filme foi filmado em várias locações no estado de Enugu, leste da Nigéria, comentou acerca das reações das pessoas que assistiam as filmagens, e, falou do vislumbre que teve de como era a vida dos homens Afeminados nigerianos.
“Houve momentos em que começamos a filmar, os aldeões se reuniam. Eu sempre ouvia essa conversa paralela e olhares deles, como se ver um homem que expressa feminilidade fosse realmente estranho para eles”.
Mesmo a Nigéria sendo um país bastante homofóbico, com a lei de Proibição do casamento entre Pessoas do mesmo sexo, não há leis que proíbam filmes que apresentam personagens Gays.
Actualmente Country Love está sendo submetido a festivais de cinema, o mesmo poderá ser lançado para exibição pública no final deste ano.
Fonte Minority Africa